Lançado no Reino Unido CD com repertório coral brasileiro relacionado à pesquisa em música da ECA-USP.

Foi lançado no Reino Unido, pela Delphian Records, o CD “Romaria: música coral do Brasil”. O novo CD da discografia do prestigiado Gonville & Caius Choir College, sob regência de Geoffrey Webber, tem uma história particular. 

Os professores Marco Antonio da Silva Ramos e Susana Cecilia Igayara participaram das gravações feitas em julho de 2014 em Cambridge. O projeto de realizar gravações e concertos de música brasileira contemporânea foi parte da pesquisa “Perspectivas transculturais no desenvolvimento criativo de coros e regentes corais”, um projeto colaborativo entre o Laboratório Coral Comunicantus, pela USP, e a Universidade de Cambridge, coordenado pelo musicólogo John Rink. 

O repertório coral brasileiro tem sido extremamente bem-recebido pela crítica especializada. Reproduzimos, abaixo, as resenhas lançadas recentemente, em tradução para o português realizada pela pesquisadora Susana Cecilia Igayara. O CD pode ser comprado pelas diversas lojas de música online. No final da postagem estão os links para os primeiros textos brasileiros, da Gazeta do Povo (Curitiba) e da Agência USP de Notícias.

Gramophone, Julho de 2015 (p. 77)
O tape da floresta tropical que abre este notável disco poderia ser um cliché brasileiro – e de certa forma é. Mas é um cliché significativo, integrante de Metaphors (1973), de Henrique de Curitiba, uma obra cujo componente coral (e material temático) é o “Et incarnatus est” do Credoda Missa quarti toni de Victoria, explorando espantosamente a escrita para soprano agudo, cantado aqui com a claridade dos sinos por Billie Robinson e Emily Kay. O atraente tape é, na verdade, uma reconstrução (o original foi perdido), parte de uma colaboração arrojada entre o Coro do Gonville and Caius e o departamento coral da Universidade de São Paulo.

A música coral brasileira, mesmo a de Villa-Lobos, dificilmente é bem conhecida fora de seu país natal, portanto este é um disco importante e revelador. A obra cativante de Curitiba é seguida por um conjunto bem mais convencional de arranjos de canções folclóricas por Ernst Mahle, e pela música de Osvaldo Lacerda para o poema “Romaria”, de Carlos Drummond de Andrade, que inclui recitação de seções do texto. Jubiabá, de Pinto Fonseca, é uma evocação de uma cerimônia de candomblé, formando um contraste brasileiro com os textos latinos cristãos tanto em Antiquae preces christianae, de Ernani Aguiar, como em Cor dulce, cor amabile e Magnificat-Alleluia, de Villa-Lobos (majestosamente executada aqui no arranjo para órgão do próprio compositor), enquanto Aylton Escobar traz juntas a cultura popular e sacra, em sua contundente Missa breve sobre ritmos populares brasileiros.
            
As mais notáveis peças aqui são Metaphors, de Curitiba, e a estonteante Ave Mariade Cláudio Santoro, mas a escuta de todas as músicas vale a pena. Muitas delas são tecnicamente exigentes mas, sob a direção inequivocamente inspirada de Geoffrey Webber, o Coro do Caius soa como se eles conhecessem intimamente esta música há anos.

Texto: Ivan Moody. Tradução: Susana Cecilia Igayara

BBC Music Magazine

Pássaros e insetos tremulando na floresta Amazônica, incluindo o som notável do Uirapuru, lançam esta antologia de música coral brasileira. Sobre eles o compositor Henrique de Curitiba sobrepõe variações a partir de um fragmento da Missa Quarti toni de Victoria, com saídas estratosféricas para soprano parodiando pássaros e sobrevoando os dois solistas.  A peça chama-se Metaphors, e é uma das sete primeiras gravações em um programa desenvolvido em conjunto com musicólogos da Universidade de São Paulo.

Não é a única obra com surpresas aqui: Osvaldo Lacerda interpola seções faladas em sua composição a partir do poema Romaria de Carlos Drummond de Andrade, e os cinco movimentos da Missa breve sobre ritmos brasileiros de Aylton Escobar brinca com diversos idiomas de danças brasileiras, interpostas com imitações de gritos de tocadores de gado, um violino rústico e um pica-pau, em boa medida. Soa como uma miscelânea, mas funciona – revigorante, nesta performance vibrantemente comprometida do coro do Gonville & Caius.

A habilidade do coro de abraçar convincentemente a variedade de influências étnicas é refletida adiante em sua abordagem de Jubiabá de Carlos A. Pinto Fonseca, em que um material de canto tribal é incorporado ao caldo cultural brasileiro, alimentado pelos imigrantes africanos. Colorações tonais quentes e excelente fusão dos naipes caracterizam as duas peças de Villa-Lobos incluídas, e a engenharia da Delphian é idealmente envolvente e empática. Este é um recital genuinamente empreendedor que merece a atenção de todo aficcionado coral.
Texto: Terry Blain. Tradução: Susana Cecilia Igayara.
The Guardian
Você pode não ter percebido que em sua vida faltava um disco de música coral brasileira contemporânea, completada com uma trilha sonora da floresta tropical e assuntos como beija-flores, jacarés, poluição e lavagem de roupa. Este álbum encantador pode convencê-lo do contrário. O título – Romaria – refere-se a peregrinação, multidões e vibração da fé. 

Com exceção de Villa-Lobos, todos os compositores incluídos nasceram no início ou no meio do século XX, alguns aindas não publicados. Seus nomes não são famliares: Henrique de Curitiba (de origem polonesa), Ernst Mahle (nascido alemão), Osvaldo Lacerda, Claudio Santoro, entre eles. Alguns usam ritmos populares brasileiros, outros olham para o passado de uma tradição cristã católica. A Missa Breve de Aylton Escobar faz uso de ambos. O coro do Gonville & Caius está entre os melhores coros mistos de colleges. Tudo o que eles fazem merece nossa atenção, especialmente esta gravação.
Texto: Fiona Maddocks. Tradução: Susana Cecilia Igayara.
The Scotsman
Pegue a exótica gravação da paisagem sonora da floresta tropical brasileira – pássaros, sapos e insetos zunindo – e sobreponha uma tomada de uma Missa de Vitória do século XVI que gradualmente se transforma em uma espetacular combinação de dois mundos vocais e você terá Metaphorsdo compositor brasileiro Henrique de Curitiba. É apenas uma de uma fascinante coleção de obras brasileiras escritas a partir de 1950, que constituem esta excepcional gravação pelo Coro do Gonville & Caius College de Cambridge, com seu inspirador diretor Geoffrey Webber. Os doces arranjos de Ernst Mahle, os ricos clusters sonoros do Oráculode Prado e a saborosa Missa Breve de Aylton Escobar são atraentemente não convencionais, mas nunca totalmente heterodoxos. Uma fascinante aventura coral. 
Texto: Ken Walton. Tradução: Susana Cecilia Igayara.
The arts desk
Você vai sentir inveja de alguém que se depare com este lançamento sem conhecimento prévio. Eles vão apertar o botão “tocar” e serão atingidos por um valioso minuto de atraentes coaxares de sapos, pássaros e insetos antes que as vozes a capella roubem a cena. Bem-vindo a Metaphors, de Henrique de Curitiba, composta em 1973. Música tão surpreendentemente bela que é um choque saber que a partitura continua não publicada e que sua trilha original está perdida. Curitiba salientou que “é bom, ou melhor, ouvir as vozes da Natureza do que os sons poluidores da nossa era tecnológica…”, e felizmente, este tape recriado soa magnífico.

O último CD do Coro do Gonville & Caius College foi uma imaginativa exploração da música coral celta antiga. Este novo, desenvolvido com a assistência de acadêmicos da Universidade de São Paulo, apresenta uma exuberante seleção de música brasileira, com sua surpreendente diversidade refletindo a história imigrante do país. Villa-Lobos está representado por seu Cor dulce, cor amabile e um vibrante Magnificat-Alleluia, que recebeu um colorido extra graças à mezzo-soprano Kate Symonds-Joy. Por que a música sacra não pode ser toda tão entusiástica assim? Ou tão alegremente divertida como o “Sanctus” da Missa breve sobre ritmos populares brasileiros, de Aylton Escobar.

Mais convencionais, no entanto igualmente atraentes, são uma sequência de canções folclóricas arranjadas por Ernst Mahle, embora ainda melhor seja uma arrojada transcrição feita por Marco Antonio da Silva Ramos. A breve Jubiabá de Carlos Alberto Pinto Fonseca é extraordinária, ajudada pela contribuição estratosférica da soprano Imogen Sebba.
Romaria, de Osvaldo Lacerda, tem o texto alternadamente falado e cantado. Musicalmente mais intrigantes são os clusters ouvidos no Oráculo de Almeida Prado, e as harmonias e falas macias que dominam a Ave Maria  de Claudio Santoro.

Esta antologia poderia ser um aborrecido exercício acadêmico, mas é fabulosa. As notas de encarte do diretor Geoffrey Webber conta tudo o que você precisa saber sobre cada obra, mas meu conselho seria ouvir primeiro e ler depois. As performances são consistentemente deslumbrantes. A dicção é impecável, e o conjunto todo carrega um estimulante impacto muito “não-inglês”. Mágico, e magnificamente gravado. Que outro sub-gênero coral negligenciado irá Webber enfrentar da próxima vez?
Tradução: Susana Cecilia Igayara.
Allmusic
Este lançamento pode certamente parecer raro, considerando o seguinte: um dos mais tradicionais coros de colleges ingleses enfrenta uma coleção de música sacra contemporânea brasileira quase desconhecida fora do Brasil. A gênese do projeto é parcialmente explicada pela colaboração entre o Coro do Gonville & Caius College de Cambridge e o Departamento de Música da Universidade de São Paulo, Brasil, que escolheu o programa. Isto não diminui de forma alguma o espírito de aventura do programa, que é inteiramente agradável pelos próprios méritos.
Uma “romaria” é uma peregrinação ou procissão e o que você recebe é, com efeito, um percurso através da música coral brasileira escrita entre aproximadamente 1950 e os dias atuais. Há duas pequenas peças de Heitor Villa-Lobos e outras que seguem claramente os caminhos estabelecidos por ele, mas o que é interessante é o quanto dessa música parte do modelo de Villa-Lobos ao mesmo tempo que retém características nacionais.
O modernismo certamente teve um impacto nesses compositores, ainda que nenhum deles o adote de forma generalizada, à maneira de Ginastera. Metaphors, a obra de abertura, do compositor polonês-brasileiro Henrique de Curitiba vale o preço do ingresso por si própria; ela nunca foi publicada, e sua parte eletrônica teve que ser reconstruída de acordo com as descrições e instruções existentes.
A obra é inteiramente original: está enquadrada por gravações de sons da floresta Amazônica aos quais o texto coral, o Incarnatus da missa católica, é entrelaçado. Em outros lugares há peças influenciadas pela música afro-brasileira e pela música folclórica, todas elas com algum elemento inovador, e uma missa de Aylton Escobar (faixas 17-21) que incorpora um grande número de estilos e dá a cada parte da missa sua própria constelação estilística. Imagina-se como um coro brasileiro interpretaria esta música de forma diferente, mas o programa é cativante do começo ao fim da forma como é feito aqui. Brilhantemente diverso, corajoso, e muito fortemente recomendado.
Tradução: Susana Cecilia Igayara.

Veja também a divulgação no Brasil, com entrevista com a Prof. Susana Igayara sobre a recriação da trilha sonora de Metaphors e crítica de Osvaldo Colarusso sobre o CD:

Gazeta do Povo (Curitiba):

Projeto recriou “fita”de Henrique de Curitiba

http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/projeto-recriou-fita-de-henrique-de-curitiba-eboyo83rfocj3vbkfhdyvlw16

Coral inglês grava obra de paranaense (por Osvaldo Colarusso)

http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/coral-ingles-grava-obra-de-paranaense-814edxxglhcrvia3d6vsb53l6

Agência USP de Notícias

Projeto avalia ensino do canto coral no Brasil e Reino Unido

http://www.usp.br/agen/?p=212560



Links para os sites com textos em inglês:


Página do Gonville & Caius College Choir, Universidade de Cambridge
Página da Allmusic
Página do The arts desk

Página do The Guardian

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