Os professores do Comunicantus: Laboratório Coral e a carreira acadêmica

No espaço de uma semana, os dois professores do Comunicantus deram importantes passos em suas respectivas carreiras acadêmicas. A coincidência de datas aconteceu porque os dois processos correram paralelamente, um pela ECA-USP, outro pela FEUSP.
No último dia 25 de abril, o professor Marco Antonio da Silva Ramos tornou-se Professor Titular em Regência Coral, a partir de concurso aberto na Escola de Comunicações e Artes da USP. No dia 02 de maio, exatamente uma semana depois, a professora Susana Cecília Igayara defendeu sua tese de doutorado na Faculdade de Educação, desenvolvida na linha de pesquisa de História da Educação e Historiografia.

Titulação em Regência Coral
O professor Marco Antonio é o primeiro professor a receber o título de Professor Titular em Regência Coral na USP, que já tem em seus quadros titulares em outras especializações musicais. Nas universidades estaduais, a titulação é o último concurso da carreira acadêmica, a que podem concorrer os professores livre-docentes ou professores titulares por outra universidade. Fizeram parte da banca os professores titulares: Adilson Avansi de Abreu, da Faculdade de Geografia da USP; Carole Gubernikoff, do Centro de Letras e Artes – Instituto Villa-Lobos da UNIRIO; Maurício Alves Loureiro, da Escola de Música da UFMG e Maria Lúcia Pupo, do Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP, sob a presidência de Amílcar Zani, do Departamento de Música da ECA-USP.
A pós-graduação, na Universidade de São Paulo, possui os níveis de mestrado, doutorado, livre-docência e titulação. Em todos esses níveis, o professor Marco Antonio da Silva Ramos apresentou trabalhos relacionados à regência coral. Em seu mestrado, discutiu o repertório temático e a construção do programa artístico, e sua tese de doutorado é formada por Três discursos sobre composição musical, entre eles uma composição coral, a Missa Guaimi, para coros, solistas e piano, cuja primeira audição fez parte da defesa.
Na arguição de seu Memorial de Titulação, a banca destacou algumas experiências pedagógicas que foram relatadas no texto. Outro tema discutido foi, justamente, a linha de pesquisa do professor, que tem orientado trabalhos ligados à análise de obras corais e à análise musical feita por intérpretes, sejam eles regentes, cantores ou instrumentistas. As temáticas das práticas artísticas e do ensino da regência coral também afloraram, pois têm sido constantes em sua atuação como orientador, principalmente depois do concurso de livre-docência, em que defendeu a tese O ensino da regência coral.
O tema escolhido pelo professor Marco Antonio para a aula pública foi Escolas de regência da tradição coral: questões técnicas no Brasil e no panorama internacional. Marco Antonio da Silva Ramos demonstrou que a regência coral possui escolas de regência com longa trajetória, destacando três grandes escolas internacionais e analisando a atuação de importantes regentes e professores que atuaram no Brasil, entre eles Klaus Dieter-Wolff, que foi seu professor e discípulo de Kurt Thomas.
A partir da apresentação de vídeos e de diagramas em projeções tridimensionais, com o título A técnica da regência coral em perspectiva: parâmetros, escolas e práticas, foi possível entender as diferenças técnicas entre essas escolas e as particularidades da regência coral, tanto pelos especialistas, como pelo público não especializado em regência coral.
A chegada de um regente coral e professor de regência à titulação é, sem dúvida, um marco importante no reconhecimento dessa especialidade musical não só como atividade artística e educativa, mas também como área particularizada de investigação acadêmica.
Doutorado em Educação
A tese de doutorado da professora Susana Cecília Igayara intitulou-se Entre palcos e páginas: a produção escrita por mulheres sobre música na história da educação musical no Brasil (1907-1958).
A pesquisa localizou 46 autoras e 100 obras, divididas em várias modalidades: escolarização formal e formação de professores, ensino especializado de música, que inclui teses de concurso e produção ensaística, ou ensino técnico, artístico e cultural, além de uma produção de divulgação, voltada ao público não especializado. Estas obras são listadas em um inventário comentado de textos, reunindo uma produção até então dispersa e de difícil localização.
Entre os temas abordados por essas autoras estão o folclore, a música na escola, o canto orfeônico, a discussão sobre música brasileira e sobre as raízes europeias da música praticada no Brasil, o repertório musical, os cancioneiros e hinários, a teoria e a análise musicais, os texto sobre a didática do canto e do piano, a história da música.
Os cinco capítulos em que se divide a tese organizam essas temáticas, sem perder de vista os cortes cronológicos internos de um período com grandes transformações na sociedade brasileira e na educação oferecida à população. A professora Susana Igayara analisa a presença da música na educação feminina, destacando a inserção da música em uma dupla cultura escrita (textual e musical). De uma situação inicial de alunas de piano, comum à maioria das professoras-autoras estudadas, observa-se uma abertura para novos campos disciplinares musicais.
A partir de sua pesquisa, conclui-se que o canto orfeônico se desenvolveu em meio a muitas tensões (inclusive sobre a história do canto orfeônico no Brasil) e intensas discussões pedagógicas. A comparação entre os livros de Leonila Beuttemüller (1937), aluna de Villa-Lobos, e Ceição de Barros Barreto (1938), catedrática da Escola de Música e adepta da pedagogia experimental do círculo de Lourenço Filho, é um dos exemplos dos diferentes projetos que disputavam o rumo a ser tomado pelo ensino de música a partir do canto coletivo.
A principal novidade do estudo talvez seja a abordagem a partir da categoria de gênero, mostrando os papéis sociais das mulheres em suas práticas musicais e em suas atuações como professoras de música ou como artistas.
A banca foi montada a partir da perspectiva multidisciplinar da tese, orientada pela professora Dra. Cynthia Pereira de Sousa, da Faculdade de Educação, que presidiu o júri, composto pelos professores Aníbal Bragança (UFF), historiador do livro e da edição; Maura Penna (UFPB), especialista em educação musical; José Eduardo Martins (ECA-USP), pianista e musicólogo, e Maria Lúcia Speedo Hilsdorf (FEUSP), historiadora da educação.

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